quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Comportamento viral

Qual a diferença entre um vírus inativo e um atenuado? E entre vacinas feitas com um e com outro? O pesquisador Akira Homma, do Instituto Bio-Manguinhos/Fiocruz, responde.

Por: Akira Homma


Os vírus, causadores de uma série de doenças, são usados de diferentes maneiras em vacinas contras as mesmas patogenias que provocam. (foto: Andrzej Pobiedziński/ Sxc.hu)

Vírus inativo é o vírus que não é mais capaz de se multiplicar; já o atenuado é um vírus que ainda pode se replicar, mas tem sua propriedade de causar doença (patogenia) drasticamente diminuída. A inativação do vírus pode ser obtida por procedimentos diversos, sendo comumente utilizados os processos químicos ou físicos e, com mais frequência, a combinação de ambos. Um exemplo de vacina viral inativada é a vacina Salk (injetável) contra a poliomielite.

Já a atenuação das propriedades de patogenia de um vírus pode ser realizada por meio de centenas de passagens do vírus em animais de laboratório ou em sistemas in vitro. Exemplos de vacinas de vírus atenuados são as da febre amarela, do sarampo, da caxumba e da rubéola. Também existe uma vacina oral (a Sabin) de vírus atenuado para a poliomielite.

Tomando as vacinas contra a poliomielite como exemplo, podemos listar as vantagens e desvantagens de cada tipo. A vacina de vírus atenuado conhecida como Sabin leva à proteção coletiva desde que mais de 80% da população suscetível seja imunizada, pois as crianças excretam o vírus no ambiente, onde ele pode infectar outras crianças, conferindo também a estas imunidade à poliomielite.

Sua aplicação é oral, o que facilita a vacinação. Porém, como os vírus não estão inativos, há chance – ainda que muito baixa, cerca de uma para cada 4,4 milhões a 6,7 milhões de doses administradas – de as crianças que recebem a vacina contraírem poliomielite. As sucessivas passagens em outras crianças podem levar também à mutação do vírus, recuperando sua patogenia e podendo causar a doença em crianças não protegidas.

A inativada, também chamada de vacina Salk, não permite que o indivíduo vacinado venha a desenvolver a doença, pois os vírus usados perderam sua capacidade de replicação. Ela também confere uma boa proteção imunológica individual, desde que se cumpra o calendário vacinal. Contudo, é injetável, o que dificulta a vacinação, não gera proteção de grupo e, para se obter uma proteção coletiva, é necessário vacinar 100% da população suscetível (sem anticorpos). Além disso, a vacina é muito mais cara que a de vírus atenuado.


Akira Homma
Instituto Bio-Manguinhos
Fundação Oswaldo Cruz

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